SOBRE O FILME

Por algum motivo, alguém conseguiu entrar no computador de Thomas Anderson, umprogramador de uma famosa empresa de softwares, e assim conversar com ele. Num estalar de dedos, o também hacker conhecido como Neo, vê sua vida virada do avesso ao descobrir que o mundo em que vive não é real. E não sabendo no que acreditar, ele embarca numa aventura.Uma história com muita ação, inteligência artificial, traição, questionamentos, e efeitos especiais, que por mais absurdos que pareçam, nos fazem pensar sobre aquilo que acreditamos ser verdadeiro.

Elenco:

- Keanu Reeves: Thomas Anderson / Neo

- Laurence Fishburne: Morfeu

- Carrie-Anne Moss: Trinity

- Hugo Weaving: Agent Smith

- Gloria Foster: Oráculo

- Joe Pantoliano: Cypher

- Marcus Chong: Tank

- Julian Arahanga: Apoc

- Matt Doran: Mouse

- Belinda McColory: Switch

- Ray Anthony Parker: Dozer

Direção e Roteiro: Andrew Paul e Laurence Wachowski

Título Original: The Matrix

Lançamento: 1999 (nos EUA)

Duração: 136 minutos

Faixa Etária: 12 anos (contém violência leve)

Gênero: Ficção Científica

Produção: Joel Silver

Música: Don Davis

Fotografia: Bill Pope

Direção de arte: Hugh Bateup e Michelle McGahey

Figurino: Kym Barrett

Edição: Zach Staenberg

Efeitos especiais: Mass. Illusions, LLC / Manex Visual Effects / Amalgameted Pixels

Estúdio: Village Roadshow Productions

Distribuidora: Warner Bros

Oscar: O filme foi indicado para quatro categorias (melhores efeitos visuais, melhor edição, melhor edição de som e melhor mixagem de som) e levou as quatro estatuetas.

MTV Movie Awards: O filme ganhou os prêmios de Melhor Ator (Keanu Reeves) e Melhor Luta (Combate final entre Neo e o Agente da Matrix) no evento, que ocorreu em 1999.

Falando em bufunfa: O Primeiro filme da trilogia custou cerca de 65 milhões de dólares e gerou nada mais nada menos do que 456 milhões de dólares.

Ficadica: acesse http://www.warnerbros.com/#/page=search&q=Matrix e http://www.thematrix101.com/matrix/ para saber mais sobre a trilogia Matrix, seus atores, animações e jogos.

Fonte: http://www.adorocinema.com/busca/?criteria=matrix

MUNDO REAL X MUNDO DOS SONHOS

O filme propõe uma nova perspectiva do mundo ao dizer que aquilo que vivemos não passa de um sonho. Morfeu define a Matrix como um sistema que controla todas as pessoas, uma poderosa máquina que cria programas em suas mentes e aquilo que elas pensam ser a realidade, tornando-as escravas desse grande sistema.

O mundo dos sonhos é aquele que é imposto pela Matrix às pessoas, e por isso faz com que elas acreditem que aquilo seja real, tornando-o confortável. Ele é representado pela correria das grandes cidades, com seus altos prédios, cheias de homens de negócios, professores, advogados, marceneiros entre outros. É aquele em que Neo sempre acreditou viver.

Cenas do mundo dos sonhos: grandes cidades do século XXI

Por outro lado, o mundo real é totalmente destruído. Um lugar sombrio dominado por máquinas de inteligência artificial, no qual cidades quilométricas foram transformadas em esgotos, o sol fora destruído pelos próprios humanos, que vivem cheios de plugs no corpo, e é chamado por Morfeu de “o deserto do real”.

Cenas do mundo real: destruído, escuro, onde as pessoas tem vários plugs pelo corpo.

O mundo real é representado com a ajuda de diversos recursos tecnológicos, empregando muitos efeitos visuais, o que proporciona uma imagem surreal, que tenta mostrar as consequências das atitudes do homem sobre o mundo e projetar um futuro catastrófico.

Ficadica: assista a cena em que Morfeu tenta mostrar a Neo a diferença entre o mundo real e o mundo dos sonhos (39:30 até 42:13).

MATRIX E SEUS NOMES

Matrix, dentre seus diversos significados, tem um sentido de “origem”. Por exemplo, em latim a palavra significa o órgão das fêmeas de mamíferos onde seus embriões se desenvolvem, ou seja, o útero; numa linguagem técnica é o molde para fundições e circuitos eletrônicos que definem cores primárias e sons, além de ser o nome dado à entradas e saídas de elementos lógicos na informática.

Segundo a escritora Marilena Chauí "No filme [a Matrix] é, ao mesmo tempo, um útero universal onde estão todos os seres humanos cuja vida real é ‘uterina’ e cuja vida imaginária é forjada pelos circuitos de codificadores e decodificadores de sons e pelas redes de guias de entrada e saída de sinais lógicos".

Neo, o codinome de uma das personagens principais do filme, é um nome grego que significa algo “novo” ou “renovado” e, ao ser utilizado com alguém, tem o sentido de “jovem na força e no ardor da juventude”.

Morfeu é o nome de outra personagem principal do filme, e também de um espírito da mitologia grega (filho do deus da Noite e do Sono) que tinha o poder de fazer o ser humano dormir e sonhar ao tocar nele com uma papoula vermelha, além de aparecer nos sonhos na forma humana. Percebe-se uma relação entre a personagem e o espírito grego pelo fato de que, em dado momento, Morfeu oferece a Neo uma pílula azul e outra vermelha, a segunda pílula assemelha-se com a papoula vermelha que o espírito tocava nas pessoas, pois além da cor, ela fará com que Neo "durma" e acabe por ver a realidade.

Representação do espírito grego fazendo com que uma mulher durma.

Momento em que Morfeu obriga Neo a escolher entre a realidade (mundo real),

e a ignorância (o sono, o mundo dominado pela Matrix).

Um oráculo pode significar a resposta que um deus envia a uma pergunta feita pelos humanos, “é uma revelação divina que precisa ser decifrada e interpretada”, como disse Marilena Chauí. Mas também pode ser uma pessoa especial que recebe e transmite esta mesma mensagem, que era chamada pelos gregos de sibila.

No filme, Sião é o nome da última cidade humana na Matrix, ou seja, é a única em que ainda nascem pessoas livres (que não são dominadas pela Matrix). Porém, o nome da cidade também tem uma referência bíblica: "Sião" (ou Tzion) é como um sinônimo de "Jerusalém", além de significar “local ensolarado”. O Monte Sião é uma elevação localizada em Jerusalém, a 765 metros acima do nível do mar, na região sudoeste da cidade. Segundo a Bíblia, teria sido noMonte Sião onde ocorreu a celebração, por Jesus, da última Páscoa; além de ser o local onde ele teria instituído a Ceia do Senhor. Se passado o tempo, o local tornou-se o símbolo da esperança de retorno do povo judeu para a sua terra e sua pátria. Não poderia haver maior relação entre o termo e a cidade do filme, afinal ela também é a “terra prometida”, aquela que ainda sobrevive, dentro de tantas ofensivas das máquinas, ao domínio da Matrix. Apesar de ser citada por Tank, a cidade em si só aparece no segundo filme da trilogia, Matrix Reloaded.

Uma das entradas para embarcações da cidade de Sião.

Ficadica: assista a cena em que Morfeu mostra como a Matrix é uma prisão em “nossas” mentes e propõe a Neo que escolha entre as pílulas azul e vermelha (28:10 até 29:30), também assista a cena em que Tank fala um pouco sobre a cidade onde nasceu, Sião (46:55 até 47:35).

Fonte: CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática

MATRIX E ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS

Numa das cenas iniciais do filme Neo desconfia que alguém conseguiu entrar em seu computador, pois mensagens estranhas apareceram em sua tela. Sem saber quem era o emissor das mensagens, ele ainda recebe a ordem de “seguir o coelho branco” e, logo após, ouve alguém bater em sua porta. Ao abrí-la, Neo observa que uma das acompanhantes de Choi tem um coelho branco tatuado no ombro esquerdo e, por conta da imagem e da ordem que havia recebido anteriormente, ele aceita o convite de ir à balada.

A decisão de Neo assemelha-se à que foi feita pela personagem principal do livro “Alice no País das Maravilhas”. Na obra de Lewis Carroll o coelho branco expressa a transição do mundo real para o mundo dos sonhos e também é utilizado para demarcar a passagem do tempo, fato acentuado pelo relógio de bolso que o animal carrega sempre consigo e também pela própria personagem preocupar-se muito em ser pontual.

A imagem mostra o Coelho Branco, no flme

"Alice in Wonderland" de Tim Burton.

No livro, o coelho branco mostra para a personagem Alice a entrada para o mundo dos sonhos (O País das Maravilhas), e no filme o coelho é o convite de Morfeu para que Neo penetre no mundo dos sonhos (a Matrix).

Em seu primeiro encontro com Neo, Morfeu diz que ele deve estar se sentindo como Alice, prestes a entrar na toca do coelho. Morfeu faz esta comparação porque, assim como Alice, Neo está prestes a entrar em um mundo totalmente desconhecido e tem que tomar essa decisão sem apoio externo (Neo também precisa decidir por si só o que fazer em relação ao mundo desconhecido que Morfeu lhe propõe abrir).

A TECNOLOGIA DE MATRIX

A trilogia Matrix foi responsável por inaugurar diversos efeitos digitais ao cinema, sem contar sua visão futurística inusitada. Uma delas foi o bullet-time, um efeito visual que utiliza uma simulação digital avançada da velocidade e se caracteriza por uma transformação no tempo e no espaço: lento o suficiente para mostrar eventos imperceptíveis aos nossos olhos.

Este efeito foi utilizado no início do filme, durante a fuga de Trinity, quando ela estava numa emboscada de policiais (percebemos a sua grande capacidade mental) e na cena em que Morfeu solicita que a multidão envolta dele e de Neo seja "congelada" (a personagem usa este recurso para enfatizar que qualquer um pode ser um agente da Matrix, além de dar a Neo a verdadeira dimensão da inserção da Matrix entre os humanos). Também é possível perceber obullet-time nas cenas em que Neo desvia de várias balas disparadas contra ele pelos agentes (percebemos o avanço do poder mental da personagem após o período que passou sob a tutela de Morfeu).

Além de criar momentos de tensão no filme, como por exemplo a dúvida que o espectador cria em não saber se a personagem irá desviar das balas, conseguimos ver perfeitamente o movimento dos atores (ou dublês) e a trajetória de diversos objetos.

As imagens mostram a sequência de movimentos feitos na cena em que

Neo desvia de balas no topo de um prédio.

Ficadica: Assista a cena do filme feita a partir da sequência mostrada anteriormente (1:46:13 até 1:46:35)

MATRIX E A CIÊNCIA

Num todo, o filme Matrix nos faz sentir como que se estivéssemos numa grande viagem, sem saber onde realmente estamos, em que tempo vivemos, e o que é real e o que é ilusão. Esse estranho sentimento assemelha-se com o que muitas pessoas sentem ao ingerirem drogas alucinógenas, substância que é inclusive citada no início do filme por Choi, o homem que visita Neo para retirar uma mídia encomendada.

Lophophora Wylliamsi (cacto peyote).

A droga citada por ele é a mescalina, um alucinógeno extraído do cacto peyote (Lophophora Wylliamsi), que era utilizado em rituais de tribos pré-hispânicas. Seus efeitos no organismo são variados, podendo causar mudanças na temperatura corporal, dilatação das pupilas, vasodilatação, náusea, vômitos, dores no pescoço e falta de ar.

O primeiro filme da trilogia ainda trás várias referências científicas, relacionando-se principalmente com o uso dos humanos presos na Matrix para obtenção de energia motriz (aquela que movimenta uma máquina ou objeto), outro aspecto que mostra uma visão futurística do filme.

Morfeu fala a Neo sobre a grande descoberta do século XXI: a IA, “uma consciência artificial que gerou uma raça inteira de máquinas”. A personagem também cita que foram os humanos que “queimaram o céu” na tentativa de acabar com a energia das máquinas e assim destruí-las. Mas estas encontraram energia no próprio corpo humano (que era liquefeito e injetado na veia dos humanos vivos e mantidos pela Matrix), que gera, assim como diz Morfeu, mais bioeletricidade do que uma bateria de 120 volts e mais de 25 mil BTUs de calor corpóreo.

Mas ainda havia uma dúvida em relação à obtenção de energia das máquinas. Sabe-se que o corpo humano produz, a partir da respiração celular, moléculas que armazenam energia em suas ligações químicas: o trifosfato de adenosina (ATP) e o difosfato de adenosina (ADP), cada uma com sua capacidade. Uma explicação possível seria que as máquinas quebrassem estas moléculas e assim utilizassem sua energia armazenada para suprir os outros humanos.

Ficadica: assista a cena em que Choi fala sobre a mescalina, definida por ele como a “melhor forma de voar” (8:50 até 9:13) e a cena em que Morfeu conta a Neo sobre os campos onde os seres humanos são cultivados (42:19 até 43:20).

MATRIX E O MITO DA CAVERNA

Imagine uma caverna onde as pessoas viviam acorrentadas, forçadas a ver apenas a parede do fundo e, por haver apenas um feixe de luz dentro daquele local, elas viam apenas as sombras dos outros e de si mesmos, tomando-as como a realidade.

Certa vez um homem conseguiu escapar da caverna. Ficou incrédulo, pois não sabia onde se encontrava a realidade: no que estava vendo ou nas sombras em que sempre viveu. Também sentiu-se deslumbrado, pois seus olhos não conseguiam ver com nitidez as coisas iluminadas.

Não foi uma tarefa fácil acostumar-se com o lado de fora, pois aprender a ver era doloroso e assim, ele desejava regressar à caverna, onde tudo lhe era familiar e conhecido. Sentindo-se indisposto a regressar à caverna, o homem ficou onde estava, acabou maravilhando-se e percebendo que sempre viveu isolado do mundo real e vendo apenas as sombras dele.

Pelo mesmo motivo que o primeiro homem relutava em ficar no "mundo real", muitos nem acreditaram quando ele regressou à caverna e contou sobre as maravilhas do lado de fora.

Representação do Mito da Carverna, proposto por Platão.

No filme, as pessoas vivem controladas pela Matrix, vendo apenas o que esse sistema impõe às suas mentes. Por este motivo o filme relaciona-se muito com o Mito da Caverna, afinal nos dois as personagens não conheciam a realidade, elas viviam em um mundo de sombras.

Como disse Marilena Chauí, a caverna representa o mundo de aparências que vivemos e as correntes são os nossos preconceitos e opiniões, que nos fazem ver apenas as sombras da realidade.

Ficadica: leia aqui http://www.monica.com.br/comics/piteco/pag1.htm a história em quadrinhos deMaurício de Souza chamada “As sombras da vida”, é uma ótima forma de entender o Mito da Caverna.

Fonte: CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2010. pp. 11-15 e 18-19.

CONHECE-TE A TI MESMO

Quando Neo vai até o Oráculo está em busca de respostas. Dentre várias que o intrigam, ele quer saber se realmente é aquilo que Morfeu disse a seu respeito, ou seja, Neo quer saber se é o escolhido. Seu receio remete a uma dúvida de um importante filósofo grego chamado Sócrates. O mesmo foi até um santuário na cidade de Delfos e dedicado ao deus Apolo, o patrono da sabedoria (que falava através de uma sacerdotisa, Pítia). Seu objetivo era consultar um Oráculo, pois desejava saber se era sábio, como todos o chamavam.

Pintura que representa a visita de Sócrates ao Oráculo.

O Oráculo pergunta a Sócrates o que ele sabe, e como resposta o homem diz: “só sei que nada sei”. Por conta desta frase o Oráculo diz que Sócrates é o mais sábio de todos os homens, afinal ele reconhecia que não sabia de tudo.

Ruínas do Oráculo de Delfos.

No filme Matrix o Oráculo diz a Neo que ele precisa conhecer a si mesmo para saber se é o escolhido. Tanto em Delfos quanto no filme, o Oráculo induz as pessoas para que elas mesmas descubram a resposta para aquilo que as intrigam, mesmo que não seja naquele exato momento: Sócrates descobre ser o mais sábio de todos e Neo reconhece que é o escolhido.

Ficadica: assista a cena do diálogo entre Neo e o Oráculo e perceba as semelhanças entre Neo e Sócrates (1:13:50 até 1:14:30)

Fonte: CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2010. pp. 11-15 e 18-19

Fonte: GAARDER, Jostein. O Mundo de Sofia. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. pp. 65-67 ; 76-86